Os violentos protestos que se iniciaram há quatro dias e tomaram conta
das ruas de várias cidades do Egito -- entre elas Cairo, Alexandria e
Suez-- começaram a ser planejados há um ano pela internet, de acordo com
relato de um jovem egípcio que mora no Brasil e voou para o Cairo na
quarta-feira (26) para aderir às manifestações. Estudante da USP, ele
conversou por telefone com a Folha.com, mas pediu para não ser identificado por questão de segurança.
"A juventude está bem organizada nas ruas, nosso método de manifestação é
pafícico. Estamos isolados, sem internet, sem celular, apenas com
telefone fixo. Eu fiz vários vídeos dos protestos nas ruas, mas não
tenho como enviar para serem publicados por jornais no exterior", contou
o egípcio, que vive no Brasil há três anos.
O jovem diz ainda que, apesar de os manifestantes estarem isolados e sem
acesso à internet, os protestos não foram prejudicados porque começaram
a ser planejados há muito tempo. "Começamos a nos organizar há um ano,
pela internet. Cada grupo sabe bem o que fazer", explicou.
Segundo ele, cerca de 7 milhões de ativistas estão nas ruas, em sua
maioria egípcios que moram fora do país. "Há muita militância fora do
Egito, é mais fácil agir no exterior do que aqui dentro".
Membro do Movimento Egípcio pela Mudança Democrática --uma das
organizações que fazem parte dos protestos, ligada ao reformista e
prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei-- ele participa intensamente das
ações nas ruas desde que chegou ao país, e se preparava para sair
novamente na noite desta sexta-feira.
O estudante diz que chegou a se ferir em um dos confrontos com policiais
antidistúrbios que estão destacados nas ruas, mas de forma superficial.
"Me machuquei mas estou bem, e pronto para voltar às ruas", diz.
Segundo ele, cerca de 400 jovens estão feridos e outros 1.500 foram
detidos pelas autoridades egípcias. "Estamos nos alternando em grupos,
para garantir nossa segurança. Há muita violência da polícia, que está
inclusive sabotando prédios para justificar a truculência nas ruas. Mas a
juventude está agindo de forma heroica e continua nas ruas para
derrubar o presidente [o ditador Hosni Mubarak]", diz ele.
De acordo com o egípcio, os manifestantes já destruíram sedes do partido
governista em vários pontos do país, e se preparam para tomar o palácio
presidencial em 48 horas. "Um grupo agora tenta a rádio e TV estatal",
conta.
Na entrevista à Folha.com, o ativista disse ainda que há rumores
de que Mubarak e seu filho tenham fugido para Londres. "Essa é uma das
coisas que se comenta aqui, mas nada é confirmado, estamos sem nenhum
acesso às informações", explica.
CAOS
Ao menos cinco manifestantes morreram e cerca de 870 ficaram feridos nos
protestos para derrubar o presidente do Egito, Hosni Mubarak, no Cairo,
nesta sexta-feira, afirmaram fontes médicas. Com as mortes, sobem para
ao menos 12 o número de vítimas nos confrontos, que já duram quatro
dias.
Não ficaram claras as circunstâncias das mortes. De acordo com as fontes
médicas, 450 manifestantes estavam sendo atendidos nas ruas, enquanto
outros 420 foram hospitalizados.
Alguns feridos estão em condição crítica, com ferimentos a bala, segundo
as fontes. Policiais também foram feridos, mas o número não ficou
claro.
As cenas mais caóticas foram registradas em Suez. A agência de notícias
Reuters diz que a polícia abandonou áreas centrais da cidade, depois que
os manifestantes superaram os cordões de segurança, roubaram armas de
uma delegacia e queimaram o edifício, além de 20 veículos de patrulha
estacionados perto do local. A polícia tentou dispersar os
manifestantes, que lançaram pedras e gritavam pela queda de Mubarak.
Eles quebraram janelas e tentaram virar um dos caminhões da polícia. Os
agentes finalmente desistiram e recuaram, abandonando ao menos oito
caminhões da polícia.
No Cairo, mais de 300 pessoas foram presas e 120 ficaram feridas,
segundo disseram fontes dos serviços de segurança citadas pela agência
de notícias Efe.
TOQUE DE RECOLHER
O ditador Hosni Mubarak ampliou nesta sexta-feira o toque de recolher
para todo o Egito, cerca de duas horas depois de um primeiro decreto que
impunha a medida às cidades do Cairo, Alexandria e Suez, informou a
emissora estatal. A medida -- que vale das 18h (14h de Brasília) até as
7h (3h de Brasília)-- visa conter as dezenas de milhares de pessoas que
estão nas ruas de várias cidades pedindo a queda do governo de Mubarak,
no poder há 30 anos. As cenas são de caos e confrontos, em meio a carros
e prédios incendiados. Há relatos ainda de ao menos quatro
manifestantes mortos.
Foi a medida mais drástica até o momento para conter as manifestações.
Mesmo antes do anúncio, o Exército já enviara veículos blindados para as
ruas do Cairo --centro dos protestos. As imagens são de violência e
caos, com a fumaça de prédios e carros em chamas se misturando ao gás
lacrimogêneo lançado pela polícia. Há relatos até o momento de quatro
mortos, um deles carregado pelos manifestantes pelas ruas de Suez.
Os veículos blindados estão nas principais avenidas de Cairo. Apesar da
repressão dura das forças de segurança, contudo, as dezenas de milhares
de manifestantes não recuam e fontes de segurança dizem que os protestos
já se espalharam por ao menos 11 das 28 províncias egípcias --os
maiores protestos do país.
As manifestações começaram pouco depois do meio-dia, no final das
orações muçulmanas da sexta-feira, e se estenderam rapidamente por
diferentes setores da capital egípcia e outras cidades do interior do
país. Manifestantes estão nas ruas, gritando palavras de ordem como
"saia, saia, Mubarak". Eles lançam pedras e sapatos contra as forças de
segurança, que não pouparam jatos de água, gás lacrimogêneo e balas de
borracha para conter os manifestantes.
Um comentário:
A internet ainda tem muitas coisas a serem colocadas para que todos vejam!
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