Internautas do Egito relataram interrupção na rede nesta quinta-feira,
com um grande número de pessoas ficando sem nenhum acesso à internet,
enquanto outras dizem ter enfrentado problemas para acessar alguns sites
específicos, como o Facebook.
Um grande número de pessoas também relatou ter ficado impossibilitada de
enviar mensagens SMS pelo celular. Os problemas ocorrem em meio aos
maiores protestos contra o ditador Hosni Mubarak, que está no poder há
30 anos.
O maior provedor de internet para o Egito, o Seabone, que é baseado na
Itália, disse que não há tráfego de rede no país desde as 00h30 no
horário local (20h30 de Brasília), segundo a agência de notícias
Associated Press.
Várias mensagens sobre a interrupção foram postadas no Facebook e no
Twitter por usuários de fora do Egito. Anteriormente, o Facebook, o
Twitter e os SMS via Blackberry já haviam sido bloqueados no país,
provavelmente em uma tentativa das autoridades de minar a organização
dos protestos.
No entanto, Karim Haggag, porta-voz da embaixada egípcia em Washington,
disse que o governo do país divulgou um comunicado negando os boicotes
aos sites.
As manifestações, que começaram na terça-feira (24), denominado Dia da
Cólera, respondem a uma convocação que surgiu na internet, coincidindo
com a queda do tunisiano Ben Ali no último dia 14.
Os violentos confrontos entre manifestantes e policiais se acirraram
nesta quarta-feira no Cairo, no segundo dia de protestos contra Mubarak.
De acordo com relato de testemunhas, manifestantes lançam coquetéis
molotov contra um prédio do governo egípcio no porto de Suez, provocando
um incêndio em um dos setores do edifício.
O grupo opositor egípcio 6 de Abril, um dos principais promotores desses
grandes protestos, pediu aos manifestantes que mantenham os protestos
até a renúncia de Mubarak. "A quinta-feira não será um dia de férias, as
ações nas ruas prosseguirão".
Os manifestantes interditaram o tráfego de uma das vias principais e as
forças de segurança tentaram dispersá-los com gás lacrimogêneo e balas
de borracha. Após o primeiro ataque da polícia, que também usou jatos
d'água e perseguiu os manifestantes com cassetetes, muitos correram para
se esconder na estação de metrô mais próxima --cujas portas foram
danificadas.
Nesses dois dias, as forças de segurança prenderam cerca de 500
manifestantes, segundo uma fonte do Ministério do Interior. Mas uma
fonte de segurança citada pela agência de notícias Efe fala em ao menos
mil detidos.
DESCONTENTAMENTO
Os protestos desta semana no Cairo e uma série de cidades de toda essa
nação árabe de cerca de 80 milhões de pessoas foram os maiores em
décadas e representam um sério desafio ao regime autoritário de Mubarak
--enquanto muitos egípcios estão reclamando do aumento dos preços,
desemprego e corrupção.
Mubarak, 82, nunca nomeou um adjunto. Acredita-se que ele prepara seu filho Gamal para sucedê-lo.
Todos os quatro presidentes do Egito, desde o fim da monarquia na década de 1950, foram militares.
O partido governista diz estar pronto a dialogar, mas não ofereceu
nenhuma concessão para atender ao pedido por mudança política.
ELBARADEI
Mohamed ElBaradei, ex-chefe da agência nuclear da ONU (Organização das
Nações Unidas) e defensor de uma reforma no Egito chegou ao Cairo nesta
quinta-feira depois de ter dito que é o momento de o ditador Hosni
Mubarak deixar o poder.
Figura com grande prestígio internacional, mas com pouco apoio popular
no Egito, ElBaradei, de 68 anos, chegou à capital egípcia vindo de
Viena, na Áustria, onde mora, para se unir a uma crescente onda de
protestos contra Mubarak, inspirados pelas manifestações que derrubaram o
presidente da Tunísia.
O prêmio Nobel da Paz e dirigente da oposição egípcia afirmou, em sua
chegada ao Cairo, que a mudança política no Egito "é inevitável". "Acho
que este é um momento fundamental para o futuro do Egito", disse ele aos
jornalistas no aeroporto internacional do Cairo. "Quero garantir que
nos dirigimos para um processo de mudança pacífico", insistiu o
ex-diretor da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).
"A mudança é inevitável. Não dá para voltar atrás", insistiu El Baradei,
que lidera há um ano uma campanha em favor de reformas políticas e
eleitorais no Egito, governado desde 1981 pelo presidente Hosni Mubarak.
"Tentamos de tudo durante um ano", afirmou ainda, lembrando que seu
movimento político boicotou as eleições parlamentares de novembro.
Ele acrescentou que o "povo se deu conta de que o regime não está
ouvindo nada e tiveram que sair às ruas, e insistiu na necessidade de
que os protestos "se desenvolvam pacificamente". "As manifestações
pacíficas são um direito de cada egípcio e de cada ser humano. Desejaria
que não tivéssemos que sair às ruas para pressionar o regime".
ElBaradei já foi muito criticado no Egito, inclusive entre seus
seguidores, por suas longas ausências do país. Ele chegou ao Cairo três
dias depois das grandes manifestações de protesto contra o regime de
Mubarak.
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