quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Em meio a intensos protestos, internet é interrompida no Egito

Internautas do Egito relataram interrupção na rede nesta quinta-feira, com um grande número de pessoas ficando sem nenhum acesso à internet, enquanto outras dizem ter enfrentado problemas para acessar alguns sites específicos, como o Facebook.
Um grande número de pessoas também relatou ter ficado impossibilitada de enviar mensagens SMS pelo celular. Os problemas ocorrem em meio aos maiores protestos contra o ditador Hosni Mubarak, que está no poder há 30 anos.

O maior provedor de internet para o Egito, o Seabone, que é baseado na Itália, disse que não há tráfego de rede no país desde as 00h30 no horário local (20h30 de Brasília), segundo a agência de notícias Associated Press.
Várias mensagens sobre a interrupção foram postadas no Facebook e no Twitter por usuários de fora do Egito. Anteriormente, o Facebook, o Twitter e os SMS via Blackberry já haviam sido bloqueados no país, provavelmente em uma tentativa das autoridades de minar a organização dos protestos.
No entanto, Karim Haggag, porta-voz da embaixada egípcia em Washington, disse que o governo do país divulgou um comunicado negando os boicotes aos sites.
As manifestações, que começaram na terça-feira (24), denominado Dia da Cólera, respondem a uma convocação que surgiu na internet, coincidindo com a queda do tunisiano Ben Ali no último dia 14.
Os violentos confrontos entre manifestantes e policiais se acirraram nesta quarta-feira no Cairo, no segundo dia de protestos contra Mubarak. De acordo com relato de testemunhas, manifestantes lançam coquetéis molotov contra um prédio do governo egípcio no porto de Suez, provocando um incêndio em um dos setores do edifício.
O grupo opositor egípcio 6 de Abril, um dos principais promotores desses grandes protestos, pediu aos manifestantes que mantenham os protestos até a renúncia de Mubarak. "A quinta-feira não será um dia de férias, as ações nas ruas prosseguirão".
Os manifestantes interditaram o tráfego de uma das vias principais e as forças de segurança tentaram dispersá-los com gás lacrimogêneo e balas de borracha. Após o primeiro ataque da polícia, que também usou jatos d'água e perseguiu os manifestantes com cassetetes, muitos correram para se esconder na estação de metrô mais próxima --cujas portas foram danificadas.
Nesses dois dias, as forças de segurança prenderam cerca de 500 manifestantes, segundo uma fonte do Ministério do Interior. Mas uma fonte de segurança citada pela agência de notícias Efe fala em ao menos mil detidos.
DESCONTENTAMENTO
Os protestos desta semana no Cairo e uma série de cidades de toda essa nação árabe de cerca de 80 milhões de pessoas foram os maiores em décadas e representam um sério desafio ao regime autoritário de Mubarak --enquanto muitos egípcios estão reclamando do aumento dos preços, desemprego e corrupção.
Mubarak, 82, nunca nomeou um adjunto. Acredita-se que ele prepara seu filho Gamal para sucedê-lo.
Todos os quatro presidentes do Egito, desde o fim da monarquia na década de 1950, foram militares.
O partido governista diz estar pronto a dialogar, mas não ofereceu nenhuma concessão para atender ao pedido por mudança política.
ELBARADEI
Mohamed ElBaradei, ex-chefe da agência nuclear da ONU (Organização das Nações Unidas) e defensor de uma reforma no Egito chegou ao Cairo nesta quinta-feira depois de ter dito que é o momento de o ditador Hosni Mubarak deixar o poder.

Figura com grande prestígio internacional, mas com pouco apoio popular no Egito, ElBaradei, de 68 anos, chegou à capital egípcia vindo de Viena, na Áustria, onde mora, para se unir a uma crescente onda de protestos contra Mubarak, inspirados pelas manifestações que derrubaram o presidente da Tunísia.
O prêmio Nobel da Paz e dirigente da oposição egípcia afirmou, em sua chegada ao Cairo, que a mudança política no Egito "é inevitável". "Acho que este é um momento fundamental para o futuro do Egito", disse ele aos jornalistas no aeroporto internacional do Cairo. "Quero garantir que nos dirigimos para um processo de mudança pacífico", insistiu o ex-diretor da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).
"A mudança é inevitável. Não dá para voltar atrás", insistiu El Baradei, que lidera há um ano uma campanha em favor de reformas políticas e eleitorais no Egito, governado desde 1981 pelo presidente Hosni Mubarak.
"Tentamos de tudo durante um ano", afirmou ainda, lembrando que seu movimento político boicotou as eleições parlamentares de novembro.
Ele acrescentou que o "povo se deu conta de que o regime não está ouvindo nada e tiveram que sair às ruas, e insistiu na necessidade de que os protestos "se desenvolvam pacificamente". "As manifestações pacíficas são um direito de cada egípcio e de cada ser humano. Desejaria que não tivéssemos que sair às ruas para pressionar o regime".
ElBaradei já foi muito criticado no Egito, inclusive entre seus seguidores, por suas longas ausências do país. Ele chegou ao Cairo três dias depois das grandes manifestações de protesto contra o regime de Mubarak.

Nenhum comentário: