quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Quem lê tanta estatística?

Sorria: você está sendo vigiado. Na maioria dos serviços on-line, nunca se soube tanto sobre quem consome o conteúdo que fornecem. Cada internauta deixa rastros por todos os ambientes que frequenta, sejam eles páginas, carrinhos de compras, e-mails, mensagens curtas, vídeos, redes sociais, games, blogs, podcasts... A coleta de dados parece ter se tornado, nos últimos anos, um pré-requisito para o êxito de qualquer empreitada digital.
Essa vigilância progressiva só tende a aumentar com as novas tecnologias: livros e revistas digitais registram as páginas visitadas, o tempo passado em cada uma delas, e o momento em que a leitura é interrompida; aplicativos para telefone agregam a esses dados de "inteligência" a localização do indivíduo, sua velocidade e frequência de uso, o que pretende inferir até se o produto está sendo usado pelo motorista de um carro em movimento. O ecossistema informativo tem se tornado tão denso e complexo que chega a gerar previsões apavorantes. Se você se espanta quando a companhia de cartões de crédito identifica despesas fora do padrão e suspende sua conta, saiba que há algoritmos para prever um divórcio baseado no padrão de gastos de um casal.
O marketing desta próxima década parece ir aos poucos se definindo pelas bases de dados e suas correlações estatísticas. Em todas as mídias, serviços e espaços de interação, nunca foi tão importante saber tudo sobre quem clica, de onde vem, por onde passa o mouse, para onde vai. O "usuário', que já foi genérico, razoavelmente imprevisível e mensurado por médias, hoje é encontrado com precisão. Quer permanecer anônimo? Compre um jornal (com dinheiro) ou veja TV. Conectados, todos são transparentes.
A coleta de dados, no entanto, pode causar quase tanta confusão e desorientação quanto a sua ausência. Um bom exemplo está na pesquisa que a empresa TNS fez sobre os hábitos de uso no ambiente on-line. Seus resultados, mostrados em belos gráficos no site Digital Live mais confundem do que esclarecem. O que significa, por exemplo, que o número médio de amigos do brasileiro em redes sociais é de 231? Quem não sabia que os principais usos da rede por aqui são e-mail e redes sociais?
George Orwell estava certo, mas só em parte. O Big Brother que hoje nos vigia é quase tão onisciente quanto impotente, atordoado pelo excesso de dados e meio sem saber o que fazer com eles. Ele está mais para um cão de guarda meio bobo do que para um estrategista. Antes ninguém sabia com precisão o que levava uma pessoa a tomar uma decisão. Hoje são tantos os motivos que a conclusão final não é tão diferente.

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