Sorria: você está sendo vigiado. Na maioria dos serviços on-line, nunca
se soube tanto sobre quem consome o conteúdo que fornecem. Cada
internauta deixa rastros por todos os ambientes que frequenta, sejam
eles páginas, carrinhos de compras, e-mails, mensagens curtas, vídeos,
redes sociais, games, blogs, podcasts... A coleta de dados parece ter se
tornado, nos últimos anos, um pré-requisito para o êxito de qualquer
empreitada digital.
Essa vigilância progressiva só tende a aumentar com as novas
tecnologias: livros e revistas digitais registram as páginas visitadas, o
tempo passado em cada uma delas, e o momento em que a leitura é
interrompida; aplicativos para telefone agregam a esses dados de
"inteligência" a localização do indivíduo, sua velocidade e frequência
de uso, o que pretende inferir até se o produto está sendo usado pelo
motorista de um carro em movimento. O ecossistema informativo tem se
tornado tão denso e complexo que chega a gerar previsões apavorantes. Se
você se espanta quando a companhia de cartões de crédito identifica
despesas fora do padrão e suspende sua conta, saiba que há algoritmos
para prever um divórcio baseado no padrão de gastos de um casal.
O marketing desta próxima década parece ir aos poucos se definindo pelas
bases de dados e suas correlações estatísticas. Em todas as mídias,
serviços e espaços de interação, nunca foi tão importante saber tudo
sobre quem clica, de onde vem, por onde passa o mouse, para onde vai. O
"usuário', que já foi genérico, razoavelmente imprevisível e mensurado
por médias, hoje é encontrado com precisão. Quer permanecer anônimo?
Compre um jornal (com dinheiro) ou veja TV. Conectados, todos são
transparentes.
A coleta de dados, no entanto, pode causar quase tanta confusão e
desorientação quanto a sua ausência. Um bom exemplo está na pesquisa que
a empresa TNS fez sobre os hábitos de uso no ambiente on-line. Seus
resultados, mostrados em belos gráficos no site Digital Live
mais confundem do que esclarecem. O que significa, por exemplo, que o
número médio de amigos do brasileiro em redes sociais é de 231? Quem não
sabia que os principais usos da rede por aqui são e-mail e redes
sociais?
George Orwell estava certo, mas só em parte. O Big Brother que hoje nos
vigia é quase tão onisciente quanto impotente, atordoado pelo excesso de
dados e meio sem saber o que fazer com eles. Ele está mais para um cão
de guarda meio bobo do que para um estrategista. Antes ninguém sabia com
precisão o que levava uma pessoa a tomar uma decisão. Hoje são tantos
os motivos que a conclusão final não é tão diferente.
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