O governo do Chile contratou uma empresa de mídia para monitorar o que a população do país comenta em redes sociais como Twitter e Facebook, além de blogs.
A medida integra um novo plano de comunicações do governo. Segundo explicou a porta-voz da Presidência chilena, Ena Von Baer, monitorar o que as pessoas dizem na internet é a "única maneira de saber o que elas pensam".
Para executar a medida, o governo do conservador Sebástian Piñera contratou a empresa BrandMetric, que se apresenta na internet como uma companhia capaz de "monitorar, escutar, medir e participar das conversas sobre sua marca". O serviço contratado custará por ano quase US$ 3 milhões.
A medida, que a oposição tem chamado de orwelliana (de George Orwell, escritor inglês, autor de "1984"), causou polêmica. Há mais de um ano no cargo, Sebástian Piñera vem perdendo popularidade e seu governo é alvo de constantes manifestações sociais.
No final de maio e no início deste mês, estudantes e professores entraram em confronto com a polícia após manifestação que cobrou melhorias nas universidades públicas do Chile. Os distúrbios ocorreram em frente ao Palácio La Moneda, sede do governo, no centro de Santiago.
"Não há nada que justifique tal medida, e o governo tampouco deixou claro como vai monitorar os comentários", disse à Folha Lorena Donoso, advogada e pesquisadora da Fucatel (Fundação de Capacitação Audiovisual), ligada à Unesco, que acompanha a situação da liberdade de expressão no país.
O que preocupa os críticos da medida é que a empresa BrandMetric poderá identificar onde está o autor de cada comentário. Para eles, funcionários públicos poderão sofrer perseguição pelo que dizem nas redes sociais.
"Todo governo busca saber o que pensa a população, mas o problema é como utilizar essas informações. O problema aqui no Chile é que a Presidência decidiu monitorar as redes sociais, medida que afeta os direitos coletivos, sem nenhum tipo de consulta prévia à população", ressaltou Donoso.
Oposicionistas acusam o governo Piñera de ferir a liberdade de expressão e o direito à intimidade.
"Os cidadãos financiam o Estado para que ele proteja nossas liberdades, não para vigiar as formas legítimas com que as exercemos", disse Carolina Tohá, presidente do opositor PPD (Partido para a Democracia).
Von Baer, a porta-voz da Presidência do Chile, argumentou que as redes sociais são um "sistema de comunicação público".
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