Ela é chamada de fotografia plenóptica ou fotografia de campo de luz, mas poderia ser chamada de fotografia com profundidade, porque é exatamente isso que ela faz: registra toda a profundidade da cena.
Conceitualmente, a fotografia com profundidade não é novidade. Como produto, também não.
Mas agora a Lytro (www.lytro.com), uma empresa recém-fundada com capital de risco e chefiada por um pesquisador de Stanford, promete trazer para o mercado consumidor de massa uma câmera desse tipo, ainda neste ano.
Na fotografia convencional, cada ponto da superfície sensível à luz --sensor digital ou filme-- retém raios de luz de um ponto da cena, conforme o foco estabelecido pela lente.
Exemplos de fotos feitas com a Lytro |
Na fotografia com profundidade, o sensor é reorganizado de maneira a captar a informação da cena completa em cada um dos pontos.
É como se o sensor fosse subdividido em muitos pequenos sensores de imagem inteira, em vez de apenas um como na imagem convencional.
O benefício dessa captação de imagem é que, mediante processamento digital, a imagem pode ser livremente refocalizada em qualquer ponto após a captura.
Dependendo do tamanho do sensor e da lente empregados, também é possível extrair uma versão da imagem em 3D.
A técnica ainda permite a fotografia com pouca luz ou em alta velocidade.
As demonstrações da Lytro são fotos nas quais você clica com o mouse no ponto da foto que deseja ver em foco, enquanto o restante da imagem fica agradavelmente desfocado. A ação do usuário de "caçar" os elementos em foco dentro da foto reproduz a ação que o olho humano faz automaticamente.
PRÓXIMA INVENÇÃO
A fotografia sempre está em busca da próxima invenção genial capaz de revolucionar o meio. O curioso é que algumas das novidades mais impactantes dos últimos tempos são implementações práticas de conceitos muito mais antigos.
A fotografia em cores, por exemplo, já tinha sido inventada nos anos 1860; faltava-lhe apenas uma formulação comercial viável, que surgiu nos anos 1930. A imagem estereoscópica ou 3D, que estava esquecida e ressurgiu com força na última meia década, era trivial no final do século 19.
O conceito da fotografia plenóptica foi criado pelo cientista franco-luxemburguês Gabriel Lippmann (1845-1921), um dos inventores da fotografia em cores.
A ideia foi retomada na era digital por outros estudiosos, entre eles Todor Georgiev, um dos desenvolvedores do Adobe Photoshop.
A Adobe chegou a construir um protótipo da câmera, baseada na pesquisa de Georgiev. Em 2010, a companhia alemã Raytrix (raytrix.de) lançou comercialmente sua primeira câmera plenóptica --já são três modelos diferentes.
Por fim, o pesquisador Ren Ng, da Universidade Stanford --que já tinha publicado em 2005 um estudo sobre imagens plenópticas--, fundou a Lytro, a primeira empresa a anunciar um produto do tipo para o mercado de consumo.
A ambição da Lytro é revolucionar o mercado de equipamento fotográfico, que move US$ 30 bilhões por ano.
É significativo que a companhia prefira cair de paraquedas nesse mercado já bem estabelecido em vez de licenciar a sua tecnologia para vários fabricantes --uma prática mais usual, mas que renderia dividendos menores.
Estará nascendo a nova Kodak? A nova técnica poderá não suplantar a nossa banal fotografia em duas dimensões, mas certamente abrirá um novo campo de criação e expressão visual.
RAIO-X LYTRO
O que é?
É uma câmera que permite ao fotógrafo capturar uma cena sem se preocupar com o foco, que pode ser definido posteriormente.
Como funciona?
A Lytro captura o campo de luz de uma cena. Campo de luz é o que define como uma cena aparece --o primeiro plano, o fundo e tudo que estiver entre ambos.
Quando começam as vendas?
Neste ano, mas a data não foi divulgada. Interessados podem se cadastrar para ser avisados por e-mail quando as vendas começarem.
Quanto vai custar?
O preço não foi divulgado.
Quem desenvolveu?
Ren Ng, Ph.D em ciência de campo de luz e fotografia computacional pela Universidade Stanford. A câmera é resultado de seis anos de pesquisa. Ren é executivo-chefe da Lytro.
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