O tipo é cada vez mais comum: informado e consciente, preocupado com o
descontrole da poluição e dos impactos ambientais, um dia se incomoda
com a passividade generalizada e procura tomar atitudes que, mesmo
pequenas em sua escala, tem a intenção de mudar o mundo. "Se cada um
fizer a sua parte" - diz, orgulhoso - "juntos provocaremos um grande
impacto". A nobreza de suas intenções é inspiradora, ainda mais quando
envolve uma razoável cota diária de sacrifício. Ir de bicicleta para o
trabalho em uma cidade acidentada, esfumaçada, agressiva e perigosa como
São Paulo, não é nada fácil. O mesmo pode ser dito do esforço empenhado
em cálculos de impacto e na escolha dos produtos a restringir em seu
cardápio e vestuário.
Ao contrário dos ambientalistas de épocas passadas, essa atitude sutil e
serena de resistência não faz dos novos ativistas "ecochatos" ou
hippies isolados. Por mais que seu discurso seja levemente panfletário,
não se pode dizer que esses orgulhosos cidadãos estejam desconectados,
ultrapassados ou alheios ao que se passa com o resto da sociedade. Como
todo mundo, eles também jogam videogames, baixam filmes, ouvem rádio
online e usam a Internet em parte significativa de seu cotidiano.
A mensagem que costumam passar lembra que todos estamos conectados, em
um sistema fechado, interligado em rede, do qual não há saída. São
comuns as referências ao pensamento dos antigos que até há pouco tempo
acreditavam que florestas, ar, oceanos, diversidade, água e combustíveis
durariam para sempre e, nessa inocência, colocaram parte significativa
de nosso ambiente em risco. Não há como negar a razão de seus
argumentos. Sua atitude, no entanto, pode estar um pouco equivocada.
Há cerca de quatro anos, em uma das conferências TED, o empreendedor e investidor Jay Walker fez uma apresentação,
como muitas nesse tipo de evento, confusa e impactante. Ela teria tudo
para ser esquecida até que, em seu final, o apresentador mostra uma
pedra de carvão e diz para a plateia que aquele era o custo energético
de cada megabyte transferido na rede.
O número, é claro, é uma estimativa. Mas está longe de ser exagerado. A
configuração dos data centers e de cada máquina intermediária entre o
disco rígido que armazena o conteúdo e o PC, tablet ou smartphone que o
consome varia muito, a ponto de ser impossível estimar o custo
energético real de cada transferência. Uma coisa, no entanto, é certa:
ele está longe de ser gratuito.
À medida que diminuem os custos de processamento, armazenamento e
transmissão de dados, a ideia de uma rede mundial de conteúdo a custo
zero se torna cada vez mais comum, varrendo para debaixo do tapete a
percepção de que cada bit de informação está efetivamente armazenado em
um computador em algum lugar do mundo. E que esse computador esquenta e
consome uma energia limitada, poluente (boa parte dela é gerada por
usinas termelétricas) e, acima de tudo, finita.
A "nuvem" é pesada, quente e faminta. Ela vai consumir boa parte dos
Gigawatts produzidos em Itaipu e Belo Monte, em parte para transferir
músicas e vídeos de gatinhos dormindo. Se a estimativa de Jay Walker
estiver correta (ela me parece tímida), cada megabyte transferido
queimaria 10g de carvão nos EUA, o que significa seis ou sete vezes esse
volume para passar por todos os intermediários até chegar aqui.
Assumindo que a estimativa do Google que cada página web tem o tamanho
de 300KB, três páginas - ou o envio de um e-mail - são o necessário para
gastar essa quantia. Seguindo o raciocínio, cada gigabyte transferido
queimaria um saco de carvão de dez quilos, um DVD baixado garantiria um
bom churrasco e uma série de TV de várias temporadas pode equivaler a um
pequeno incêndio. Sem considerar, é claro, o custo energético de ar
condicionado, máquinas de suporte e do PC que fica ligado por um bom
tempo a transferir e armazenar todos esses dados.
Os problemas de aquecimento global, crise energética e escassez de água
são muito mais complexos e interligados do que aparentam. Pequenas
atitudes, quase sem esforço, estão ao alcance de todos: armazenar em
servidores remotos apenas o que for necessário, evitar o consumo de
conteúdo online e, sempre que possível, estimular o empréstimo. Em
outras palavras, usar a rede para o que for essencial, e desligá-la
sempre que possível. Até porque boa parte da energia usada para
alimentar os pequenos luxos e comodidades tecnológicas dos dois bilhões
de pessoas conectadas é finita e de grande impacto ambiental.
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