As revelações sobre faltas na administração financeira da fabricante
japonesa de câmeras fotográficas Olympus prejudicam não apenas a imagem
da empresa, mas podem enlamear a reputação de outras firmas japonesas,
aos olhos dos investidores estrangeiros.
A Olympus admitiu ter maquiado suas contas para ocultar prejuízos
colossais em investimentos financeiros de risco nos anos 90, agravando o
escândalo que mancha a imagem da empresa e derruba suas ações na Bolsa.
O dinheiro oficialmente declarado para aquisições, serviu, na
realidade, para diminuir o passivo de suas contas.
"O escândalo poderá prejudicar as vendas de câmeras fotográficas",
considerou Nanako Imazu, da empresa de corretagem CLSA, e os hospitais
aos quais o grupo fornece endoscópios, uma de suas especialidades,
"podem hesitar em voltar a fazer negócios com uma empresa tão mal
administrada".
FRAUDE E CONSEQUÊNCIAS
Com investigações no Japão, Reino Unido e nos Estados Unidos, a Olympus
está com sua cotação ameaçada de cancelamento na Bolsa de Tóquio, ao
mesmo tempo em que o valor de sua ação perdeu 80% desde 14 de outubro,
quando o escândalo veio à tona.
O professor de economia Yasuyoshi Masuda confessa ter ficado "surpreso
com a amplidão" da fraude, com duas décadas de operações complexas
avaliadas em um bilhão de euros, segundo a empresa nipônica.
Segundo ele, algumas empresas japonesas, que realizaram investimentos
duvidosos nos anos 80 e tiveram prejuízos mais tarde, conseguiram, no
conjunto, "sanear seus métodos de gestão, de acordo com as regulações
mais estritas editadas após o ano 2000".
Antes, uma empresa poderia manter em sua contabilidade o mesmo valor de
compra de um ativo financeiro, mesmo se seu preço tivesse caído muito
com o tempo. Agora, são obrigadas a atualizar regularmente os preços de
seus bens.
CULTURA DO SEGREDO
No entanto, as empresas nipônicas conservam "uma cultura de segredo e de
falta de transparência para os olhos ocidentais", diz James Lawden,
presidente do comitê de assuntos jurídicos da Câmara de Comércio europeu
do Japão (ECB).
"Somem a isto o culto à harmonia que dissuade qualquer tumulto e a
lealdade dos empregados japoneses a sua empresa, obtendo-se um coquetel
que favorece o caso Olympus."
Para melhorar a governança das empresas nipônicas, Lawden sugeriu
reforçar a independência dos encarregados da contabilidade nos conselhos
de administração.
Nesta sexta-feira, o governo mostrou-se publicamente comovido com a situação negativa dos negócios nipônicos.
"É triste ver investidores, tanto no Japão, como no exterior, questionar
a equidade e a transparência do mercado japonês", lamentou o ministro
delegado dos Serviços Financeiros, Shozaburo Jimi.
Muitos investidores estrangeiros alarmados retiraram aplicações feitas
em algumas empresas nipônicas, temendo que o caso Olympus seja, apenas, a
ponta de um iceberg.
Nenhum comentário:
Postar um comentário