O padre Tom Eichenberger começou um sermão recente usando um iPhone para
tocar o som de sinos de igreja, no microfone, e comparou o hábito de
orar ao uso do popular aparelho.
"As mesmas regras se aplicam", disse à congregação dominical presente à
paróquia de São Francisco Bórgia, em Cedarburg, uma cidadezinha ao norte
de Milwaukee. "Você não usa seu iPhone apenas para telefonemas, precisa
usar os aplicativos", disse ele, em referência aos pequenos programas
que permitem que o aparelho execute tarefas específicas.
"E você não usa a oração apenas para pedir coisas e tratar Deus como se
fosse Papai Noel", disse Eichenberger, 60, relembrando aos paroquianos
que as orações servem também para dar graças e ouvir o Espírito Santo.
Com os celulares inteligentes dotados de aplicativos que realizam todo
tipo de tarefa, de localizar restaurantes próximos a identificar
estrelas no céu noturno, os produtores de software estão fadados a
desenvolver programas que levem as práticas religiosas tradicionais ao
mundo digital.
Muitos deles contêm os textos completos de livros sagrados como a Bíblia
ou a Torá. Os muçulmanos podem calcular o horário de suas cinco orações
diárias e os hindus podem apresentar oferendas de incenso virtual a
Ganesh, o deus com cabeça de elefante.
Nem todos os líderes religiosos se mostram entusiasmados como
Eichenberger. Mas muitos deles reconhecem que a juventude costuma usar
mídias novas como os celulares inteligentes ou o Facebook para se
definir, interagir socialmente e buscar respostas para suas questões
mais profundas.
"Tecnologia é uma maneira para que projetemos para além de nós nossa
sensação sobre aquilo que somos em nosso íntimo", disse Rachel Wagner,
professora assistente de religião no Ithaca College, em Nova York.
"Religião é uma parte importante dessa busca por aquilo que somos. E os
aplicativos que as pessoas empregam revelam um pouco sobre quem são
elas."
Wagner afirmou que é difícil estimar o número de aplicativos
disponíveis, mas acrescentou que a fé surgiu no mundo digital de tantas
maneiras que ela decidiu escrever um livro a respeito, a ser lançado em
2011.
"Meu aplicativo favorito é esse, de oração", disse ela, mostrando um dos
programas religiosos instalados em seu Apple iTouch. "Basta digitar uma
oração a Deus e enviar. Um relógio marca o tempo e confirma a
transmissão da mensagem. Mas ela não vai a lugar algum, ou vai?",
brincou a pesquisadora.
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