Nesta entrevista exclusiva, realizada por e-mail, ele revela que a família ficou preocupada quando o filho decidiu abandonar os estudos em Harvard para se dedicar a uma aventura na então nascente indústria de software.
Mas aceitou o caminho de William Gates III. Afinal, os ensinamentos da família era no sentido de seguir as regras, em geral, mas com liberdade para desenvolver suas próprias habilidades e interesses pessoais.
Leia a seguir a íntegra da entrevista.
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Folha - Como surgiu a ideia do livro? O que o senhor espera dele?William H. Gates - Originalmente, o projeto começou como um livro de memórias para meus filhos e netos, para que eles pudessem saber mais sobre os que vieram antes deles. Eu sempre lamentei não ter algo semelhante sobre meus antepassados. Depois de avançar pouca coisa no projeto, ao longo de alguns anos, pedi ajuda a uma amiga, que sugeriu que o livro poderia ser interessante para um público mais amplo.Tomara que ela esteja certa. Meus filhos sempre apoiaram a ideia. Acho que eles gostam do que construímos em família. E espero, em relação ao público em geral, que esse livro ajude a disseminar debates sobre o que significa ser um cidade global no mundo de hoje, cada vez mais interconectado.
O que o senhor fez para estimular o desenvolvimento de seus filhos?
É difícil saber as razões que levam uma criança a se desenvolver de uma certa forma ou de outra, e eu não tenho nenhum segredo especial ou fórmula para educar um filho. Mas é verdade que nós costumávamos ter jantares em família, e as crianças ouviam sua mãe, Mary, e eu contarmos sobre sobre o que estávamos fazendo no trabalho ou em algum projeto de apoio à comunidade. Eles também cresceram participando de algumas tradições familiares, como passar ferias juntos, com um grupo de outras famílias, em um acampamento de verão que chamávamos Cheerio. Meus filhos dizem que essa experiência ajudou-os a ter um sentido de continuidade e de responsabilidade em suas vidas, além de ser uma oportunidade para entender como outras famílias e pais se comportavam. Por essas e outras razões, eu acredito firmemente que as crianças aprendem mais pelo exemplo, pelo que veem seus pais fazendo do que pelo que ouvem deles.
Que tipo de comportamento o senhor exigia de seus filhos?
Nós orientávamos nossos filhos a seguir as regras, mas também dávamos a eles a liberdade para que desenvolvessem suas habilidades e interesses pessoais.
Que tipo de valor a família Gates pretende disseminar?
Algumas pessoas acreditam que são responsáveis apenas por si mesmas ou por suas família. Eu acredito na responsabilidade pessoal mas também acredito que estamos todos juntos neste planeta e nós todos temos a responsabilidade e a oportunidade de nos apresentarmos para tentar fazer deste mundo um lugar melhor, mais justo. Todas as vidas têm o mesmo valor, e muito do trabalho que faço hoje na fundação de meu filho e minha nora está focado na ideia central que as pessoas em todas as partes do mundo merecem a oportunidade de terem vidas saudáveis e produtivas. Meus familiares compartilham desses valores e divulgam essa crença pelo testemunho de suas próprias vidas.
Quando o senhor percebeu o potencial de seu filho para o mundo da tecnologia? Que conselhos deu a ele?
Desde criança, meu filho sempre teve uma curiosidade insaciável. Quando adolescente, ele passou a dirigir muito dessa curiosidade ao mundo dos computadores e da tecnologia. Ele foi se aprofundando cada vez mais nesses terreno, e logo ficou claro que faria disso sua carreira. Mas eu jamais poderia imaginar que ele chegaria a ter o enorme sucesso financeiro que atingiu com a Microsoft. Eu ainda estou aprendendo a usar meu computador e meu celular --certamente, nesse terreno não tive muitos conselhos a dar a ele.
O senhor ficou preocupado com as decisões de seu filho? Ele abandonou a faculdade...
Sim. A mãe dele e eu ficamos preocupados quando ele disse que pretendia abandonar Harvard para aproveitar uma oportunidade surgida na indústria de software. Mas ele prometeu que voltaria "mais tarde" para conseguir seu diploma. Isso acabou acontecendo em 2007, quando ele recebeu de Harvard o título de doutor honoris causa.
O senhor acredita que seu filho deixou a direção da Microsoft no momento certo, para se dedicar a outras causas?
Com certeza. Por 30 anos, ele se dedicou à Microsoft apaixonadamente. Agora, com a mesma intensidade, ele volta suas energias para o trabalho de sua fundação e seus interesses pessoais.
O que o senhor diz quando seu filho é acusado de práticas comerciais agressivas e desleais?
Eu diria apenas que há muita ambiguidade no mundo legal das chamadas "práticas comerciais desleais". Acompanhei sua defesa frente às autoridades federais e sei que ele sempre procurou seguir as regras concensiosamente.
A família Gates tem uma história ligada à filantropia. Como isso começou?
Como muitas outras famílias americanas, minha mulher e eu apoiamos causas e organizações que consideramos importantes --isso foi algo que nós dois aprendemos de nossos pais. Não somos excepcionais.
E o que o senhor aprendeu com seus filhos?
Como acontece com outros pais, meus filhos são a alegria de minha vida. É impossível dizer o quanto eu aprendi e cresci com eles. Digo apenas que me orgulho de todos eles, assim como os pais em geral se orgulham de seus filhos. Eu gostaria que minha primeira mulher, Mary [NR: morta em 1994], pudesse ver o que eles conquistaram e compartilhar a alegria e satisfação de vê-los hoje como pais.
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