Outro dia mesmo, andei falando, ou melhor, citando dados relativos à comunicação informática desenfreada. Eram de assustar.
Tudo que é digital mete medo. Feito aquele velho marginal carioca dos
anos 50, o Tuninho Sete Dedos, que, em ação hoje em dia, seria com
certeza o Tuninho Sete Dígitos.
Eu quero que parem com esse excesso de informação aí. E regrido no
tempo, que é de meu feitio e vocação, passando a parafrasear o bom, o
grande Ronald Golias, que, em pleno esquete, virava-se para o lado e,
inexplicavelmente, pedia, "Vão pará com essas pedra aí!" Isso. Vão pará
com essas informação aí, digo eu com o boné virado para trás.
Tem certas coisas que é melhor não saber. Perguntem a qualquer polícia
secreta de estado totalitário e, com um cordial dar de ombros e cabeça,
ele concordará. Se não me engano é corrente a expressão information
overload.
Exatamente. Sobrecarga de informação. Um homem é apenas um homem e tem
uma medida para o que pode e não pode digerir e continuar são. São. Eu
gostaria de continuar são. Parece que não concordam comigo. Já não sou
mais garoto (juro, não sou) e não tenho tempo para perder com besteira.
Outro dia mesmo, tanto falaram e premiaram, que eu me dei ao penoso
trabalho, à dura azáfama, à insuportável faina de alugar e começar a
assistir o recordista de bilheteria Avatar, filmezão todo em "ão" mas
indo de "inho" do começo ao fim.
Seriam duas horas e meia de dolorosa captação de informação visual.
Agradecendo seja lá quem for que inventou o controle remoto
incrementado, consegui aguentar a escória azul por cerca de meia-hora. E
não valeu a pena. Simplesmente constatei que o mundo, e aqueles que o
habitando vão ao cinema, para se esquecerem de Iraque, Afeganistão,
enchentes, terremotos, deslizamentos, assaltos a hotéis de luxo,
misérias as mais variadas, esses, coitados, e frívolos peraltas, por
certo perderam o senso e todo o discernimento ou noção do que pode ser
bom ou ao menos passável neste horror que é a vida.
Avatar. Não me enganem que é coisa de garoto. Garoto, conforme eu
comecei a dizer lá em cima e não acabei o pensamento, manja das coisas.
Garoto prestigia Toy Story (Nhô, sim. As 3 histórias de brinquedos são
bem boazinhas). Garoto gosta de bater bola na calçada. Garoto tem um
mínimo de noção das coisas.
Ou garoto tinha um mínimo de noção. Ou então sou eu que não estou com nada. Um misto quente das duas coisas, talvez.
Lá está no jornal, com detalhes em profusão: videogame tem tudo a ver
com ADHD. E essas iniciais, esse acrônimo, não têm nada a ver com nova
modalidade de alta definição em TV ou sistema novo cibernético. Trata-se
de nosso velho conhecido Transtorno de Deficit de Atenção por
Hiperatividade, ou, para nós, TDAH. Que tem a ver comigo pelo menos, que
tenho bicho-carpinteiro no corpo e na alma, conforme demonstrei
amplamente nas linhas que antecederam estas linhas que, por sua vez,
antecedem outras não se preocupem, faltam poucas que vêm aí já, já.
Criança que vê televisão, ou pega de videogame por mais de duas horas
por dia, vai dar, no mínimo, uma chegada ao Deficit de Atenção. Foi o
que revelou um novo (mais um, meu Senhor, mais um!) estudo. Quer dizer,
vai a garotada toda vai dar vexame no colégio, tirar péssimas notas,
pegar castigo dos pais. Nisso que dá.
Eu só quero saber uma coisa. O meu deficit de atenção, essa complicação
que eu enfileiro aqui neste cantinho três vezes por semana, é culpa de
quê? Ou de quem?
Seguramente, a meia-hora de Avatar não dá para eu culpar. Nem aos
videogames, que só conheço de nome e deles tenho até medo. Vá lá que
seja. Trata-se então de desordem mental que vem com a idade. Com um bom
bocado de idade. Até encontrar uma explicação melhor, viro-me para o
nada e esbravejo, "Vão pará com essas pedra aí!"
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