Philip Roth disse outro dia a Tina Brown em entrevista que você vê no
Youtube que a grande literatura em algumas décadas será como o latim
hoje. Estudado e mantido vivo apenas nos meios acadêmicos por algumas
dezenas de milhares de entusiastas.
Roth talvez, como sempre, esteja sendo amargo demais. Mas que a
literatura vai mudar como a música mudou é um processo que já começou.
A Barnes & Noble, maior rede de livrarias dos EUA, está à venda e em
crise. Suas megastores parecem hoje dinossauros em Manhattan.
Lembro de Paulo Francis escrevendo insistentemente em algum ano da
década de 1990 sobre a inauguração da mega Barnes & Noble da Quinta
Avenida, um templo à cultura, andares e andares, estantes e estantes de
livros inventariando a experiência humana.
Houve época no século 20 em que as pessoas iam às livrarias e se
largavam a ler por seus sofás e poltronas postos ali para esse fim, por
horas. Escolhia-se um livro ao acaso, qualquer livro. Hoje não há lugar
melhor para browsear estantes e conteúdos do que a internet. O Google se
propõe a ser a maior biblioteca do planeta. Tomara, agradecemos o
acesso.
Mas a Barnes & Noble não está convivendo bem com a era digital. E a
indústria da música já provou como isso é fatal, com a morte súbita das
megalojas de discos (alguém ainda lembra o que é um disco?) como Tower e
Virgin e a dominação total das vendas e trocas online.
As vendas de e-livros explodem junto com as de iPads, Kindles e outros
leitores eletrônicos. Amazon e Aplle rumam para dominar o mercado na
qual a Barnes & Noble reinou por muito tempo. Entrar na B & N
que tanto entusiasmou Francis hoje é deprimente. Já numa loja da Apple
não dá nem para entrar.
Os saudosistas, sempre reacionários, lembrarão como é valiosa a sensação
de folhear livros percorrendo fileiras cheias deles e dirão que o fim
das livrarias é mais um sinal de nossa inexorável decadência
intelectual.
Balela.
A cauda longa da web é a maior difusora de conhecimento. Suas estantes
virtuais são muito maiores e mais completas do que as estantes da maior
Barnes & Noble.
Os leitores de livros ainda custam caro demais no Brasil por causa de um
protecionismo vesgo e uma tributação ignorante que impedem o acesso de
milhões de brasileiros ao que há de mais atual nas novas tecnologias.
Isso nos deixa tão para trás.
Um Kindle nos EUA custa US$ 190. Um similar menos sofisticado no Brasil custa mais que o dobro. O iPad sofre a mesma distorção.
Nós brasileiros sempre lemos pouco, um defeito enorme e sintomático. Agora estamos nos excluindo da revolução dos e-livros.
Precisamos de uma nova abertura dos portos e menos ou nenhum imposto.
Tecnologia para as massas!
Nenhum comentário:
Postar um comentário